Mélodie e a cirurgia plastica

Eu sempre quis ter uma bundinha bem robusta e redondinha.
Com o passar dos anos, essa vontade virou uma necessidade imperiosa.

As bundas redondinhas que cruzavam o meu caminho, riam de mim, ainda que cobertas de celulite.

Aquela humilhação virou um pesadelo. Até dormindo, eu via bundas femininas e já estava até começando a ficar um pouco preocupada com minha preferência sexual…

Resolvi então cortar o mal pela raiz e consultar um especialista no assunto.

Pedi conselho à mulheres mais experientes, que já haviam colocado prótese no busto e outras cirurgias plásticas afins.

Um nome se destacou: Dr. Fabiano Coupinho.

Marquei consulta e me olhei no espelho. A minha bunda já não me parecia ser a única urgência. E por onde olhasse, rosto e corpo, eu via despontar pele murcha e babadinhos.

A secretária do cirurgião me aconselhou ir sem maquiagem ao consultório, para fazer fotos e uma avaliação completa das minhas reais necessidades.

Não é do meu feitio sair sem maquiagem. Para que impor aos demais cidadãos esta visão tão dura e crua da minha realidade? Como já dizia a canção “Antes muerta que sencilla”.

Seguindo à risca esse refrão, tento sair sempre colorida, corrigida e ainda assim, ninguém nunca mais me chamou de senhorita…

Acho que vou ter que retocar muita coisa pra ver se recupero o titulo perdido.

O objetivo disso tudo?

Ora bolas, que pergunta idiota? Seduzir, ué? Ainda estou esperando o meu “príncipe encantado”. Bom, pela idade dele, seguramente terá sido coroado Rei.

Mas voltando ao assunto: fui pra consulta, simplesinha, despojada, “ao natural”, pra fazer a foto. Rezando pra não esbarrar em nenhum conhecido na rua.

La chegando, me sento na sala de espera e eis que, quando a porta do consultório se abre, vejo entrar, envolto num lastro de luz, aquele homem alto, moreno, esguio (nem sombra de uma barriguinha), olhinhos de jabuticaba, timbre de voz viril, gestos firmes, etc etc. E sabe o que ele me diz?

Vamos passar para a outra a sala, você tira a roupa e me mostra o que está te incomodando….

Que humilhação! Que derrota! Neste momento, o incomodo que o meu envelope corporal provocava ficou ainda maior! Seria possível??? Imagine, mostrar, ao meu príncipe encantado, diante de luzes acesas, ou melhor, de vários holofotes, sem um drinkzinho, uma gotinha de álcool se quer, aquela coleção infinita de peças de segunda mão?

O que fazer? O que era prioritário? A cirurgia? O príncipe? Evidente que uma vez exibidos estes meus “troféus”, este príncipe pediria ao cocheiro para dar marcha à ré na carruagem!

Este tipo de primeiro encontro não é propicio à uma paixão correspondida!

Enquanto eu hesitava, eu senti na minha bunda plana, o desconforto e a dor que o contato com a cadeira dura provocava. Então decidi tirar a roupa: corta tudo doutor.

Eu perdi o príncipe mas mantenho a esperança de encontrar algum outro nobre nesta corte!